16 de set. de 2012

De onde vem o mundo?




No começo e no fim de todas as coisas não está a pergunta: de onde vem o mundo?
Eu sei que existe uma resposta para essa pergunta. Uma resposta, no entanto, que está fora do meu alcance. Ela existe, ela vive, mas ela vive atrás das minhas costas, e não na caverna em que passo os meus dias.
Posso me conformar com isso? Quero dizer, como é que posso me conformar em levar a minha vida num mundo sem saber de onde ele vem?
O mundo, eu disse! O mundo como uma rocha de toneladas que de repente passa flutuando baixo no ar sobre a cidade. Ela simplesmente está ali, não é possível contestar sua existência. Seria bem feito para as pessoas. Uma rocha flutuante de mais de cem mil toneladas! Aí elas se espantariam.
O mundo sempre existiu, você está dizendo. E não se fala mais nisso. E por que não, afinal? Essa é de fato a idéia mais evidente. Como proposição, até mesmo inevitável. Mas como fato é pouco convincente. Naturalmente podemos imaginar um mundo que sempre tenha existido. Mas a questão é: é possível que um mundo sempre tenha existido? Ele não precisa ter surgido num determinado momento? É isso o que me interessa. 1x0.
Uma outra idéia razoável é que Deus criou o mundo e que Deus sempre existiu. Resolvido. Ponto final. Essa também é uma idéia evidente, mas nem por isso mais convincente como fato. Dessa forma não estamos avançando. Apenas estamos nos esquivando do problema. 2x0.
Quem foi que disse que o mundo sempre existiu? Ele absolutamente não pode ter sempre existido. Mas se nem sempre existiu, em algum momento deve ter surgido do nada. Quase numa primeira instância, tertium non datur.
Evidentemente podemos nos esquivar indefinidamente do problema. Mas seja como for, uma coisa é certa: em algum momento, alguma coisa deve ter surgido do nada.
Suponhamos que Deus tenha criado o mundo. Com isso, então, teríamos o próprio Deus. O que tem Deus? Vamos então para a segunda rodada. Será que ele sempre existiu? Não, essa possibilidade também acabamos de rejeitar.
Assim só nos resta a última possibilidade: Deus criou o mundo, depois de ter criado a si mesmo!
Todavia, se a observarmos mais de perto, teremos que rejeitá-la. Trata-se de uma idéia paradoxal. Para não dizer desonesta e deformada. Ela morde seu próprio rabo.
Com ou sem Deus, continuamos confrontados com o impossível, o absurdo.

(Joistein Gaarder,  Pássaro Raro)

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